A obra escolhida:
Auto da Compadecida
Suassuna tem como objeto de análise a estrutura e as relações interpessoais da sociedade, esta inv estigação possui um
caráter crítico e moralizador, onde é mostrada, de forma descontraída, porém
contundente, as características positivas e negativas da sociedade, e a condição
falível do homem. Os personagens da trama são distribuídos de forma genérica,
não há preponderância da individualidade, mas sim uma visão alegórica,
simbolista, icônica e total dos estereótipos apresentados, Por ex: O Padre e o
Bispo representam o clero, a classe dominante em uma sociedade pobre e
ignorante, representam também a opulência e a ostentação da Igreja Católica, O
padeiro e sua esposa: a burguesia que exploram seus empregados sem nenhuma compaixão
e mantém relação direta com a Igreja, e João
Grilo e Chicó: os pobres,
miseráveis, desprovidos de instrução e a margem da sociedade, porém sobrevivem da astúcia e da luta do dia a dia,
com muito suor e muitas privações
A essência reformista e
moralizadora da Peça toma sua forma mais aguda no último Ato, onde todos os
personagens estão prestes a ser julgados por seus pecados em vida, após serem
assassinados por Severino de Aracaju e por seu cangaceiro. Um tribunal fictício
composto por Manuel (Jesus) o Juiz, o Diabo: acusador, e promotor, e a Compadecida
(mãe de Jesus): a advogada de defesa. Neste ínterim é esmiuçada e julgada a
maioria das ações praticada em vida, por todos, sem distinção de raça, cor,
posição social, ou condição financeira, ali, todos são iguais, não há espaço
para convenções terrenas, bajulações ou mentiras, apenas a verdade.
O
autor busca um resgate da condição ética e moral do ser humano, da bondade e da
benevolência, este apelo fica evidenciado nas atitudes derradeiras de cada
personagem frente à morte, onde conseguem atingir, cada um, graus de nobreza
antes esquecidos: o desprendimento das coisas materiais, o perdão e o
arrependimento sincero, como por ex: O padeiro traído exime sua esposa de seus
erros, ou o padre e bispo que mesmo na hora da morte, dão a bênção ao seu
algoz. Tudo isso leva os espectadores ou leitores a um profundo estado de auto-análise
e de reflexão, encontrando-se muitas vezes nos divertidos e emblemáticos
personagens do cenário lúdico e nordestino de Ariano Suassuna.
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